sábado, 30 de outubro de 2010





"Caminhei entre seus corpos feridos, gritando por socorro, ou pela morte; tinham nojo de seus próprios corpos, o sangue que escorria revelava a ferida da alma, revelavam a vontade de matar alguém! Eu olhava pra suas expressões e tentava entender suas dores, imaginava-me em seu lugar, queria carrega-las no colo e revelar minha indignação .. queria poder dizer que mataria ele por elas, em nome de seus filhos e maridos, em nome das suas identidades que se afogariam pela dor física e emocional. Algumas me abraçavam e pediam ajuda, não sabiam como contariam pra suas famílias e pediam pra que eu o fizesse, outras diziam não querer ver ninguém, nunca mais, se escondiam atrás do poço de sangue misturado com suas lágrimas"



Então, esse texto foi criado por mim, é fictício (graças a Deus) mas não improvável! Na verdade, decidi postar isso pra dividir um pouco com vocês meus pensamentos racionais, e minhas dúvidas sobre minha futura profissão. Todos os dias de manhã, quando chego a faculdade, disposta (ou não) a ouvir professores por horas e horas sobre não julgar, não se assustar com o que vai ser divido conosco, não ter "juízo de valor" (esse é clássico), ou sobre pensar sobre a história de cada indivíduo antes de concluir qualquer coisa.. tudo isso, as vezes me dá a sensação de que a qualquer hora, eu posso desistir.

Se não por essa vontade de conhecimento que existe em mim, ou nesse doce anseio de ser usada por Deus pra fazer a diferença em qualquer lugar que eu possa chegar, pensar em ser Psicologa me remete a tantas dúvidas! Quando você é leigo, escolher fazer psicologia no vestibular é o máximo, não tem matemática, podia ter coisa melhor que isso?

Tenho um desejo estupidamente grande de trabalhar com crianças, desde sempre! Quando estive dois meses com meu irmão no hospital em São Paulo, caminhava pela ala de câncer e quando encontrava uma criança por lá, meu coração congelava, minhas pernas ficavam fracas e dos meus olhos jorravam lágrimas que não se continham por minha própria vontade. Lidar com esse tipo de dor é difícil pra qualquer um! (Exceto pela dor incomparável vivida pela família, qualquer pessoa se emocionaria facilmente com uma cena assim) Mas, depois dessa experiência, e com os relatos de meus professores eu descobri que é pior do que eu imaginava! Depois do câncer, eu comecei a ouvir mais sobre a maldição do estupro! Ouvi minha professora dizer "não é anormal abusar de crianças, é o desejo do indivíduo.." CLARO que num contexto muito bem explicado, isso continuou ser um soco no meu estômago. E isso é inaceitável, meu Deus! O que eu espero? Me abster dessa realidade a vida toda?

Esse texto não precisa ser lido por ninguém, normalmente quando decido escrever algo, o objetivo principal é encontrar uma conclusão que sirva pra mim mesma, talvez por isso meus textos não sejam tão bem elaborados assim, perdoem-me.

Mas..meus caros, do jeito que esse mundo caminha, vai ser de mal a pior. E no momento certo eu sei que vou me encontrar, que Fritz Perls e Freud se revirem em suas tumbas se eu não fizer diferença na vida de uma pessoa sequer através do meu trabalho, ou do meu conhecimento. Que nos próximos três anos eu consiga postar a solução dessas dúvidas aqui, como prova do que pode ser feito por mim, ou por qualquer um.

3 comentários:

  1. eras amiga, o pior que isso passa na cabeça de cada um na sala, inclusive na minha. Esse medo de não dar conta de lidar com tanto sofrimento, de não fazer juizo de valor, de abstrair tanta coisa. É uma tarefa muito dificil. Eu sei que temos que pensar que isso terá um bom resultado. Daqui há 3 anos estaremos formadas, e faremos a diferença na vida de muitos (yn) Mas nesse percurso, nesse dia após dia, no contato com tudo, é dificiel, bem dificil. Mas vamos respirar fundo, que tudo ocorrerá bem.

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  2. Grande! Bom... Aqui vai a minha opinião, sem uso de muitos critérios:
    Nem tudo é mesmo normal e em nem tudo se pode ver um "lado aceitável". Tanto a psicologia como a história (eu sei bem), são ciências que descartam alguns pontos fundamentais, uma vez desenvolvidas por mentes humanas desprovidas de uma certa essência primordial (contato com o seu Criador o/) e, por fim, desembocam nesse mar de argumentos que apoiam ERROS, todos vindos dessa natureza caída e dessa mentalidade incompleta, causada justamente pela falta dessa essência, eu acredito.

    Há também um senso de justiça na humanidade mentalmente saudável (que não se discuta aqui o que é e não é, afinal, saudável --).
    O câncer dói, assusta. Qualquer fatalidade do tipo. Deus me livre ter um filho que passe por uma dessas! Prefiro eu passar! Não tenho dúvidas quanto a isso.
    Já o estupró é, sim, pior. Deus!
    É uma violência que nenhum instinto idiota justificaria. Descarta qualquer tipo de consideração pelo outro, pela construção emocional do outro. É algo egoísta, e eu infelizmente me sentiria muito tentado a seguir meus instintos homicidas contra um animal que seguiu os seus e fez esse tipo de coisa. Mas não é assim que funciona, pois é.

    Mana, excelente texto! Tchê! E qualidade literária nos teus escritos não há de faltar nunca, depois daquele trecho lá em cima! :P
    Esse tipo de relexão é fundamental também. Parabéns, guria! Mereceu um comentário gigante! X]
    o/

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  3. Teu texto fictício beira o divinal poder de escrita dos melhores. E que interessante tua angústia diante de uma verdade pesada! Tua professora está correta, é o desejo do sujeito. Mas lembre-se que o desejo do sujeito se esbarra na sociedade. Desejo a derramar-se é inconsciente a céu aberto e tal situação é o inverso da sociedade. Societar-se é negar desejos, abafá-los. A ética é essa. E você, como mulher mais do que psicóloga (daqui a 3 anos), penso que nunca vai conseguir se insentar de assuntos que dizem respeito à feminilidade da mulher, à inocência da criança (um filho em potencial) e ao cuidado do outro.

    Parabéns pelo teu texto.

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