"mãe, fui atropelada por uma ambulância"

15 de novembro de 2008 ás 22:00hrs na Av. Tamandaré

               Comecei a fazer cursinho pro vestibular no mês de novembro, a noite, no Colégio Impacto, desconsiderando todos os fatores desagradáveis: distância da minha casa, o sufoco no bonde e a chatice que é assistir aula a noite. Na verdade, eu me achava o máximo, chegar em casa depois das 23:00hrs é uma beleza, ainda mais com um gatinho que ia me buscar todos os dias lá (tem até olhos verdes, meninas..). A hora do intervalo normalmente era 22:00hrs, normalmente eu não lanchava, ficava na sala, ou na frente da escola esperando a aula começar. Ah! e eu nunca fui de vestido também, afinal, é super desconfortável quando o vento bate .. mas, sempre tem uma primeira vez! E nesse dia, ah meu deus, nesse dia eu estava de vestido! E pra ajudar: eu tava com fome! Aula de física um saco, e aí: TRIIIIIIIIM! intervaloo!

  Lá vamos nós, lindos e loiros! De braços abertos para o que nos próximos 20 minutos se tornaria meu pesadelo! Agora, me respondam: por que eu não fiquei na sala aquele dia? por que eu não lanchei lá mesmo? porque eu não pensei "ah, vou no banheiro antes", 10 segundos a mais, e eu estaria livre daquilo! Maaas, eu fui lanchar, e atravessei a rua, que absurdo! Quem em sã consciencia atravessa a rua pra lanchar tendo um lanche bem na porta da escola? Pois bem, eu atravessei (fora da faixa, porque eu sou muito esperta, desculpem..) e fui lanchar com minhas coleguinhas.. agora deixem eu desabafar um pouco, uma das meninas que estavam comigo era uma CONHECIDA muito muito distante, se ela ler isso aqui um dia, talvez me odeie, mas gente: eu segurei na mão da menina pra atravessar a rua! vamos lá.. atravessar a rua (fora da faixa, porque somos muito espertas, desculpem..) e NA HORA o sinal abriu, nós estavamos quase no meio do caminho, e voltamos correndo, maas, um motorista de ônibus, com um bom coração e encantado por nossos olhos azuis parou e fez aquele sinalzinho com a mão dizendo "podem passar, meninas, o caminho está livre, não tem nenhuma âmbulancia vindo em alta velocidade atrás de mim", eu fui,  e segurando na mão da menina,  eu na frente e ela atrás. Porque eu sou grande e valente, feita de aço, correndo pra ter mais emoção, passei do ônibus, e aaaaaaí : PIIIIIIIIMBA! (imaginem que o ônibus é a ambulância..)

      

  A droga da ambulância CAIU DO CÉU, tenho certeza! Aquele pneu fervendo passou sobre meu lindo pézinho direito, arrebentou minha sandália novinha (cuja fivela quebrou e entrou no meu pé..) bateu no meu braço e me jogou no chão (não esqueçam que eu estava de vestido..). Uma ambulância me bateeeu! Com um senhor todo enfaixado DENTRO! Ah, o motorista ficou muito feliz, e eu mais ainda, dizia pra ele loucamente "desculpa moço, pode ir embora, eu to bem.." CLARO GENTE! Vai que o cara tá num dia ruim? eu que não me arriscaria chingando ele.. bom, eu QUASE convenci ele, quando olhamos pro meu pé e ele não era mais lindo, gordo e branquinho .. o cara nem me deixou falar nada, me pegou no colo e jogou dentro da ambulância! A primeira pessoa que eu liguei foi pro gatão de olhos verdes "amor, uma ambulância me atropelou.." (ele riu um pouquinho - quem acreditaria?) e disse que ia imediatemente me salvar, a segunda pessoa foi o Vitor, "Vitor, onde tu estás?" "To fazendo prova, depois te ligo" Droga, lá vou eu, essa hora a adrenalina tinha ido embora e a dor só aumentava, pedi crédito especial pra matar a mamãe do coração .. "Mãe, onde você tá? é que, é que .. eu fui atravessar a rua e uma ambulancia me bateu" "o queeeeeeee? onde você táaaaaa?" "to indo pro metropolitano". Enquanto isso o tiozinho enfaixado me acalmava "é minha filha, esses caras que andam meio loucos mesmo, só enquanto eles me traziam eu já cai duas vezes dessa maca" (a segunda vez certamente foi quando uma louca se jogou na frente da ambulância). Vocês não sabem o que meu pé era nessa altura do campeonato,e o motorista da ambulância, ainda feliz, pediu meus dados pra registrar uma ocorrência contra a louca. Fiquei numa sala sinistra e sozinha, do meu lado direito, uma mulher que tinha levado um tiro na cabeça, quase morrendo, do outro, um ladrão espancado, preso por uma algema na maca, na minha frente, um garoto que tinha quebrado o braço, do lado dele, um menino que pisou em  pregos enferrujados, e do lado dele um cara (quase mais esperto que eu) que levou um coice de um cavalo no bumbum .. como já é quase a hora do almoço, nem vou falar da mulher nua na maca, com o peito aberto, fazendo uma cirurgia (eu juro! tinha uma proteção, mas onde eu tava, dava pra ver tudo..). Fiz um raio-x lá mesmo, e olha só: não quebrei nada! Uma bronca do papai de leve, e fomos pra casa, fiquei só com o pé enfaixado por umas 3 semans, não conseguia apoia-lo de jeito nenhum, mas e aí? o exame dizia que eu não tinha quebrado nada! "deixa de corpo mole, nathalia". Ah! Fiz vestibular e passsei, dei até entrevista pra rádio Unama, coisas do tipo "to morrendo de dor, mas vim fazer essa prova.." Depois disso, poupo vocês dos detalhes sórdidos, o novo raio-x comprovando que eu tinha quebrado a pata, os meses com bota, os curativos feitos na unimed.. pensando bem, talvez eu seja até bem esperta, pura sorte ser atropelada por uma ambulância, meus queridos!

AH! e nem me venham com essa de:
"pelo menos ela te levou logo, né?".

        Indignadamente,

        Nathy Lobo.